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terça-feira, dezembro 05, 2006

Um conto de natal






Livro: Antologia Mediúnica do Natal
Francisca Clotilde & Francisco Cândido Xavier



A noite é quase gelada...
Contudo, Mariazinha
É a menina de outras noites
Que treme, tosse e caminha...

Guizos longe, guizos perto...
É Natal de paz e amor.
Há muitas vozes cantando:
-"Louvado seja o Senhor!"

A rua parece nove
Qual jardim que floresceu.
Cada vitrine enfeitada
Repete: "Jesus nasceu!"

Descalça, vestido roto,
Mariazinha lá vai...
Sozinha, sem mãe que a beije,
Menina triste, sem pai.

Aqui e ali, pede um pão...
Está faminta e doente.
- "Vadia, saia depressa!" - É o grito de muita gente.

- "Menina ladra! - outros dizem.
- "Fuja daqui, pata feia!
Toda criança perdida
Deve dormir na cadeia."

Mariazinha tem fome
E chora, sentindo em torno
O vento que traz o aroma
Do pão aquecido ao forno.

Abatida, fatigada,
Depois de percurso enorme,
Estira-se na calçada...
Tenta o sono, mas não dorme.

Nisso, um moço calmo e belo
Surge e fala, doce e brando:
- Mariazinha, você
Está dormindo ou pensando?

A pequenina responde,
Erguendo os bracinhos nus:
- Hoje é noite de Natal,
Estou pensando em Jesus.

- Não recorda mais alguém?
E ela, a chorar, disse: -Eu
Penso também, com saudade,
Em minha mãe que morreu...

- Se Jesus aparecesse,
Que é que você queria?
- que ele me desse
Um bolo da padaria...

Depois de comer, então
- E a pobre sorriu contente - Queria um par de sapatos
E uma blusa grande e quente...

Depois...queria uma casa,
Assim como todos têm...
Depois de tudo...eu queria
Uma boneca, também...

-Pois saiba, Mariazinha,
Eu lhe digo que assim seja!
Você hoje terá tudo
Aquilo que mais deseja.

- Mas, o senhor quem é mesmo?
E ele afirma, olhos em luz:
- sou seu amigo de sempre,
Minha filha, eu sou Jesus!...

Mariazinha, encantada,
Tonta de imensa alegria,
Pôs a cabeça cansada
Nos braços que ele estendia...

E dormiu, vendo-se outra,
Em santo deslumbramento,
Aconchegada a Jesus
Na glória do firmamento.

No outro dia, muito cedo,
Quando o lojista abre a porta,
Um corpo caiu, de leve...
A menina estava morta.

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