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sábado, novembro 18, 2006

CHAMA-SE

Chama-se esperança o apetite ligado à crença de conseguir.
Sem essa crença, o apetite chama-se desespero.

Chama-se medo a opinião ligada à crença de dano proveniente do objeto.

Chama-se cólera a coragem súbita.

Chama-se confiança em si mesmo a esperança constante.

Chama-se desconfiança em si mesmo o desespero constante.

Chama-se indignação a cólera perante um grande dano feito a outrem, quando pensamos que este foi feito por injúria.

Chama-se bondade natural se for do bem do homem em geral.

Chama-se cobiça o desejo do bem dos outros, palavra que é sempre usada em tom de censura, porque os homens que lutam por elas vêem com desagrado que os outros as consigam; embora o desejo em si mesmo deva ser censurado ou permitido conforme a maneira como se procura conseguir essas riquezas.

Chama-se ambição o desejo de cargos ou preeminência nome usado também no pior sentido, pela razão acima referida.

Chama-se pusilanimidade o desejo de coisas que só contribuem um pouco para nossos fins e o medo das coisas que constituem apenas um pequeno impedimento.

Chama-se magnanidade o desprezo pelas pequenas ajudas e impedimentos.

Chama-se coragem ou valentia a magnanimidade, em perigo de morte ou ferimentos.

Chama-se liberdade a magnamidade no uso das riquezas.

Chama-se mesquinhez e tacanhez ou parcimônia a pusilanimidade quanto a esse mesmo uso, conforme dela se goste ou não.

Chama-se amabilidade o amor pelas pessoas, sob o aspecto da convivência social.

Chama-se concupiscência natural o amor pelas pessoas apenas sob aspecto dos prazeres dos sentidos.

Chama-se luxúria o amor pelas pessoas adquirido por reminiscência obsessiva, isto é, por imaginação do prazer passado.

Chama-se paixão do amor por uma só pessoa, junto ao desejo de ser amado com exclusividade.

Chama-se ciúme o amor junto com o receio de que esse amor não seja recíproco.

Chama-se ânsia de vingança o desejo de causar dano a outrem, afim de levá-lo a lamentar qualquer de seus atos.

Chama-se admiração a alegria do saber de uma novidade; é própria do homem, porque desperta o apetite de conhecer a causa.

Chama-se glorificação a alegria proveniente da imaginação do próprio poder e capacidade que é aquela exultação do espírito a qual, quando baseada na experiência de suas próprias ações anteriores, é o mesmo que a confiança. Mas quando se baseia na lisonja dos outros, ou é apenas suposta pelo próprio, para deleitar-se com suas consequências, chama-se vanglória. Nome muito apropriado, porque uma confiança bem fundada leva à enficiência, ao passo que a suposição do poder não leva ao mesmo resultado, e é portanto justamente chamada vã.

Chama-se desalento a tristeza devida à convicção da falta de poder.

Chama-se vanglória, a invenção ou suposição de capacidades que se sabe não possuir.
O entusiasmo súbito é a paixão que provoca aqueles trejeitos a que se chama riso. Este é provocado ou por um ato repentino de nós memos que nos diverte ou pela visão de alguma coisa deformada em outra pessoa, devido à comparação com a qual subitamente nos aplaudimos a nós mesmos. Isso acontece mais com aqueles que têm consciência de menor capacidade em si mesmos e são obrigados a reparar nas imperfeições dos outros para poderem continuar sendo a favor de si próprios. Portanto, um excesso de riso perante os defeitos dos outros é sinal de pusilanimidade. Porque o que é próprio dos grandes espíritos é ajudar os outros a evitar o escárnio e comparar-se apenas com os mais capazes.

Chama-se imprudência o desprezo pela boa reputação.

Chama-se piedade a tristeza perante a desgraça alheia, e surge do imaginar que a mesma desgraça poderia acontecer a nós mesmos.

Chama-se crueldade o desprezo ou pouca preocupação com a desgraça alheia, que deriva da segurança da própria fortuna. Pois considero inconcebível que alguém possa tirar prazer dos grandes prejuízos alheios.

Chama-se emulação a tristeza causada pelo sucesso de um competidor em riqueza, honra ou outros bens se lhe juntar o esforço para aumentar nossas próprias capacidades, a fim de igualá-lo ou superá-lo. Chama-se inveja quando ligada ao esforço para suplantar ou levantar obstáculos ao competidor.

Thomas Hobbes

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