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quinta-feira, outubro 19, 2006

JUSTICA

JUSTIÇA

O quadro era muito triste. Olhamos aquela mulher outra vez. E a mente
rapidamente calculou os meses intermináveis que a detém ao leito de dores.
Contemplando-lhe o corpo minado pela enfermidade, o cansaço estampado
na face, a memória que a trai a cada instante, com imensos lapsos de
esquecimento do passado distante, quanto do ontem ainda presente,
confrangeu-nos o coração.
Imaginamos a sua vida de trabalho e operosidade. Mulher dinâmica,
valorosa, criou cinco filhos quase a sós. A profissão do esposo o mantinha
semanas a fio longe do lar.
Sempre foi ela quem decidiu, opinou, escolheu. Disciplina lhe foi nota
constante. Valor que passou aos cinco filhos. Disciplina de horários, na
palavra, na conduta.
Dinâmica e corajosa enfrentou enfermidades dos filhos, dificuldades
financeiras imensuráveis.
Os anos se somaram. Os filhos cresceram. Casaram e constituíram a
própria família.
Vieram os netos e a soma de trabalhos não cessou, pois que agora os
pequeninos lhe eram deixados à guarda, por horas, sim, desde que as forças
já não eram as mesmas da juventude ativa e sadia.
E então, quando o inverno dos anos lhe cobriu de neve os cabelos,
intensificaram-se as dores.
Morreram-lhe em curto espaço de anos, o esposo e três filhos, em
circunstâncias abruptas e trágicas.
Feneceram-lhe as forças e o coração ferido se deixou desfalecer.
Acresceram-se as inquietudes e a doença se instalou, vigorosa.
Olhando-a agora, sobre a cama, semi-desfalecida, recordamos os esforços
que fez para a preservação da vida dos filhos, pela sua educação.
Lembrando os anos de atividade e labuta, perguntamo-nos o porquê de
tanto sofrimento.
As pessoas dizem que é o ciclo natural da vida. Nascer, crescer,
enfermar, morrer.
Mas a pergunta não cala em nós. Desejamos resposta mais convincente.
Afinal, dói-nos na alma observar a debilidade e a dependência da
mulher-mãe, esposa, avó.
Enquanto oramos por ela, soam-nos aos ouvidos as exortações do
Evangelho de Jesus: "A cada um segundo as suas obras."
É como se pudéssemos, no recesso do espírito, escutar a voz do cantor
Galileu, em plena natureza.
Tornamos a olhar para o corpo da enferma e agradecemos a divindade.
Podemos agora entender a sua serenidade na dor.
Ela sabe que é a justiça de Deus que a alcança, permitindo-lhe o
resgate de faltas cometidas em dias passados, de existências anteriores.
Por isso ela sorri, ora, e espera. Aguarda os dias do reencontro com os
seus amores, afirmando convicta: "Quando Deus quiser, hei de partir. E estou
me esforçando para seguir viagem vitoriosa."

Você sabia?

Você sabia que ninguém sofre de forma injusta?
Se assim não fosse, não poderíamos conceber que Deus, nosso Pai, fosse
infinitamente justo e bom, pois puniria a bel prazer uns e outros,
concedendo felicidade a outros tantos.
Desta forma, cabe-nos cultivar a resignação ante os problemas que nos
atingem e não podem ter seu curso alterado, por nossa vontade.
Contudo, é sempre bom lembrar que cada um de nós, sobre a Terra, pode
se tornar instrumento da divindade, para aliviar a carga do seu irmão,
socorrendo-o.
Eis porque a fraternidade é um dever de todos.

MHM 08/12/1997
Equipe de Redação do Momento Espírita

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